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Correntista fica em média 22 dias do mês no vermelho

O mês de quem usa o cheque especial é divido em duas partes: os oito primeiros dias com dinheiro na conta e o restante do mês com o cheque.

Fernando Nakagawa

O mês de quem usa o cheque especial é divido em duas partes: os oito primeiros dias com dinheiro na conta e o restante do mês com o cheque. Na média, quem começa a usar esse crédito leva longos 22 dias para voltar ao azul. Portanto, dados do Banco Central mostram que esses clientes contam com dinheiro disponível apenas na primeira semana após o depósito do salário.

Historicamente, o uso do cheque especial é duradouro. Desde que a autoridade monetária começou a acompanhar o uso desse empréstimo automático, a média de dias de uso nunca foi inferior a 19.

Mas a situação parece estar vagarosamente piorando. Em outubro do ano passado, mês após o estouro da crise financeira nos Estados Unidos, o cheque foi usado, na média, por 22 dias pela primeira vez na história. Esse número voltou a se repetir em março e abril de 2009.

A situação é pior para 9,7% desses clientes. Para o grupo, a conta corrente não volta ao azul quando o salário chega. Isso porque praticamente um em cada dez usuários do cheque especial estão permanentemente no vermelho há pelo menos 3 meses, situação que caracteriza, para o Banco Central, inadimplência.

Para os especialistas em finanças, o uso mensal repetido do crédito por um período de muitos dias indica que as pessoas usam o limite disponível como se fosse um complemento da renda, sem lembrar que é um empréstimo.

"Há falta de planejamento. Esses consumidores são muito confiantes do ponto de vista psicológico quanto à situação financeira. Para eles, a situação vai, no mínimo, continuar na mesma ou até melhorar. Diante disso, ele prefere pensar nas finanças apenas no futuro", diz Daniel Yabe Milanez, sócio da consultoria IGC Partners.

Para ele, a irracionalidade é o principal fator que leva os consumidores às dívidas.

"As pessoas sabem que será mais vantajoso se pouparem e usarem o dinheiro para comprar à vista. Mas quem tem paciência para esperar para consumir? Ele quer agora", diz.

Para Milanez, só a educação financeira pode mudar o quadro. Ele dá como exemplo o conceito muito propagado no Brasil do financiamento que "cabe no bolso".

"Se é possível pagar a parcela mensal, ninguém nem procura saber o juro que está pagando."